Muito se
tem falado de que a educação formal é o único meio de ascensão social para os
que não tiveram o privilégio de nascer em “berço de ouro”. É bem verdade que os exemplos dos que saíram
de condições degradantes e conseguiram subir os degraus da pirâmide social
comprovam que a escola constitui-se como espaço de possibilidades para os que a
frequentam. E a educação profissional, como se comporta entre essas
possibilidades?
A Lei de Diretrizes e Bases - LDB
(BRASIL, 1996), estabelece que a educação profissional deve se desenvolver de
forma sistematizada em instituições próprias ao ensino, considerando-a no
âmbito da educação escolar e articulada à formação básica, como educação
básica, conforme Resolução. Por essa razão, necessita ser acessível a todos os
brasileiros, promovendo-lhes a formação indispensável ao exercício da
cidadania, à participação efetiva nos contextos sociais e produtivos e o
prosseguimento na vida escolar.
Entre as instituições que trabalham
com educação profissional, destacamos aqui o IFB, que tem como missão:
Oferecer
ensino, pesquisa e extensão no âmbito da Educação Profissional e Tecnológica,
por meio da inovação, produção e difusão de conhecimentos, contribuindo para a
formação cidadã e o desenvolvimento sustentável, comprometidos com a dignidade
humana e a justiça social;
E cuja visão é: até
2018, consolidar-se no Distrito Federal como instituição pública de Educação
Profissional e Tecnológica de qualidade inclusiva e emancipatória, articulada
em rede e com a comunidade.
Tanto a missão quanto a visão do IFB
estão em consonância com o disposto na LDB e com o pressuposto de que a
educação formal é realmente uma das estratégias para ascensão social, resta
saber se no microcosmo da sala de aula essa estratégia está sendo desenvolvida.
Tomamos como ponto de reflexão os cidadãos que retornam ao ambiente
institucional e manifestam, por meio de participação em um processo seletivo, o
desejo de cursar o ensino médio integrado ao curso técnico, ofertado pelo
Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA. São, na sua maioria,
pais e mães de família que, em decorrência das formas excludentes do ambiente escolar
ou por diversos outros fatores que a própria condição social lhes impõem,
abandonaram os estudos na idade própria e agora veem, nessa instituição, a
chance do retorno e abertura de novas possibilidades.
Trabalhar com esse grupo, com o
objetivo de promover a emancipação social, pressupõe reconhecer suas
especificidades, sobretudo, considerando seus saberes produzidos ao longo da
vida, por meio de suas experiências individuais e comunitárias. É indispensável
não culpabilizar esse sujeito por seus fracassos escolares e por suas
dificuldades ou responsabilizá-lo por seus insucessos na realização das
atividades acadêmicas. É indispensável reconhecer que o estudante tem direito à
aprendizagem e que, ao lado de um direito há um dever. Neste caso, dever da
instituição, considerando sua missão, sua visão e, ainda, seus valores:
Ética; Educação como bem público
gratuito e de qualidade; Formação
crítica, emancipatória e cidadã; Respeito à diversidade e à dignidade
humana; Promoção da inclusão.
Negar isso tudo, é colocar esse
sujeito em uma sala de aula como expectador de discursos acadêmicos, de
conceitos incompreensíveis ou de temas completamente desvinculados de sua
realidade. Garantir o direito à aprendizagem exige formas próprias de educação
que correspondam às demandas de cada grupo, metodologias adequadas ao público,
adequações de linguagens. Nessa perspectiva, os “conteúdos” devem estimular
novas leituras, reflexões e pesquisas, proporcionar outros pontos de vista da
realidade, ampliar o repertório linguístico e comunicativo.
É primordial as práticas de leitura
de mundo e de escrita, com os textos que circulam na sociedade, discutindo sua
estrutura e seus propósitos. É fundamental considerar a matemática da vida,
seus usos e seus efeitos, as contas e os descontos de sua aplicação no
cotidiano. É indispensável a geografia, sobretudo, a social, o lugar que esse
sujeito ocupa, seu papel em uma sociedade atravessada pela cultura letrada. A
biologia deve ser compreendida em sua essência, como ciência da vida, não
apenas em seus conceitos, mas nos efeitos que seu conhecimento proporciona. A
filosofia deve ser o espaço para o pensar, para o trânsito entre o mundo das
ideias e o mundo real, por isso, mais do que discutir os filósofos é necessário
ampliar a visão dos estudantes sobre a sociedade em que estão inseridos. É
importante que a história sirva como fonte inspiradora para o reconhecimento da
constituição de cada sujeito histórico e social que está ali, com formação
humana e capaz de escrever uma nova trajetória em suas vidas.
Os conhecimentos gerais, portanto,
ganham sentido, na formação profissional
técnica desse sujeito que já está ou precisa ser inserido no Mundo do trabalho.
Assim, todos os conhecimentos construídos na formação escolar desse estudante convergem para a sua
emancipação social, política, econômica, tornando-o um cidadão cada vez mais
capaz de transitar nos diversos contextos.
Profa.
Dra. Maria do Rosário Cordeiro Rocha
Instituto
Federal de Brasília – Campus Gama
Um comentário:
Parabéns pelo texto, Professora Maria do Rosário. Muito relevante a discussão.
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