O uso das TIC na inclusão dos estudantes com necessidades educacionais especiais

A sociedade, em permanente transformação, é marcada por mudanças científicas, tecnológicas, econômicas, políticas, sociais e culturais, colocando em evidência a influência das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como um dos elementos responsáveis pelas alterações observadas nos processos sociais e, principalmente, educacionais. Para Moran (2008), a expansão do mundo digital está provocando mudanças significativas na educação, interferindo nas metodologias utilizadas em sala de aula. Para o autor, as tecnologias estão evoluindo mais que a cultura.
Leite et al. (2000) ressaltam que esse momento de transição é reflexo do desenvolvimento das TIC que aceleram a mudança de comportamento em função da linguagem que utilizam. Para os autores, as tecnologias estão eliminando as fronteiras físicas e temporais, favorecendo a troca e circulação de informações, ideias, negócios, emergindo assim a globalização das sociedades e da economia com a imperiosa necessidade da competitividade baseada na qualidade, na busca de mercados consumidores, num mundo sem fronteiras.
A denominação Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) abrange o conjunto de recursos tecnológicos que propiciam agilidade no processo de comunicação, transmissão e distribuição de informações, notícias e conhecimentos, ou seja, as TIC são “o resultado de três grandes vertentes técnicas: a informática, as telecomunicações e as mídias eletrônicas” (BELLONI, 2005, p. 21). As TIC “são usadas para reunir, distribuir e compartilhar informações, como por exemplo: sites da Web, equipamentos de informática (hardware e software), telefonia, quiosques de informação e balcões de serviços automatizados” (MENDES, 2008).
O que não se pode negar é que as TIC são elementos constituintes do ambiente de ensino e de aprendizagem. Acredita-se que elas possam apoiar a aprendizagem de conteúdos e o desenvolvimento de capacidades específicas, além de permitirem a criação de espaços de interação, compartilhamento e como facilitadoras do processo comunicativo. Podem, ainda, funcionar como um elemento motivador e facilitador no processo de ensino e de aprendizagem em turmas com alunos com necessidades educacionais especiais (PAIVA, 2011).
Acredita-se, enfim, que o uso das TIC pode melhorar a ação pedagógica, principalmente em turmas com alunos com necessidades educacionais especiais, já que inserem novos dispositivos que facilitam e dinamizam o processo de ensino aprendizagem. Contudo a maioria dos professores não se sentem preparados para utilizar as tecnologias em suas aulas. É importante salientar que a utilização das TIC no processo de ensino e de aprendizagem não se limita aos conhecimentos das técnicas informáticas.
É preciso que sua utilização esteja aliada à criação de condições para o professor e o aluno se apropriarem de conceitos e habilidades que estejam relacionados a um determinado conteúdo pedagógico e contexto sociocultural. Dessa forma, não basta utilizar novas tecnologias educativas sem transformações nas práticas pedagógicas, o que deve acarretar mudanças tanto nas concepções de conhecimento e aprendizagem, como nos papeis do aluno e do professor no processo de ensino–aprendizagem (SIQUEIRA, 2013, p. 207).
Neste estudo, foram recolhidas diferentes opiniões de alguns docentes e estudantes do campus Gama, do Instituto Federal de Brasília (IFB), através de questões aplicadas por questionários via google drive. Os dados obtidos foram analisados e, após essa fase, obtiveram-se como conclusões: a constatação da importância e da eficácia da utilização das TIC no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais; as TIC consideradas como recurso para uma intervenção pedagógica diferenciada; os conhecimentos e competências dos docentes adquiridos no uso delas; e o desempenho com visível melhora dos alunos a partir do uso das TIC em sala de aula.
O objetivo geral da pesquisa foi o de identificar as possibilidades e as dificuldades encontradas no uso das TIC em turmas com estudantes com necessidades educacionais especiais na educação profissional, no Instituto Federal de Brasília (IFB). E, ainda, conhecer e avaliar as ferramentas utilizadas no desenvolvimento das competências destes estudantes.
Nesta pesquisa, de abordagem qualitativa foi utilizado o estudo de caso. A abordagem qualitativa está sendo muito utilizada como metodologia de pesquisa em educação e é a que melhor exprime a complexidade e a dinâmica dos fenômenos sociais e humanos. Já o estudo de caso, segundo Yin (2004), investiga um fenômeno moderno dentro de seu contexto real. E, a este respeito, BOGDAN e BIKLEN (1994, p. 89) afirmam ainda que: “O estudo de caso consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte e documentos ou de um acontecimento específico.”
Para a coleta de informações, optou-se pela utilização de um questionário misto (questões fechadas e abertas), disponibilizados em formulário, através do google docs, e de uma entrevista semiestruturadas que foram aplicados aos professores e estudantes do Instituto Federal de Brasília (IFB). Utilizar o questionário como instrumento de coleta de dados proporciona inúmeras vantagens quando se deseja atingir uma amostra maior da população. No questionário misto foram incluídas questões fechadas, em que o sujeito pesquisado escolheu sua resposta a partir de um conjunto de categorias.  As questões abertas, foram elaboradas com o intuito de comportar respostas subjetivas e que deram condições ao sujeito pesquisado de discorrer espontaneamente, sem limitações e com linguagem própria, favorecendo aos respondentes emitir sua própria opinião e posição a respeito de cada uma das questões. Na seleção das questões para a montagem do questionário baseou-se nos objetivos da pesquisa abrangendo questões ligadas à caracterização dos sujeitos da pesquisa.
Foi realizada também uma revisão bibliográfica em que se buscaram informações sobre o tema a partir de livros; artigos publicados em sítios eletrônicos; revistas; etc., para que se pudesse obter a sustentação teórica necessária para análise das informações obtidas e a discussão dos resultados encontrados. Após a coleta de informações, a fase seguinte foi de sistematização e organização das informações obtidas, a fim de analisá-las, com a atenção especial porque a análise das informações deve mostrar ao pesquisador a situação real do objeto do seu estudo.
As questões de múltipla escolha do questionário levantaram informações acerca do perfil dos entrevistados; tipo de experiência no uso das tecnologias; confirmando, deste modo, a pretensa heterogeneidade da amostra quando da utilização deste tipo de instrumento. As informações fornecidas pelos questionários aplicados nas questões abertas convergiram eletronicamente para um relatório para que o trabalho de classificação e categorização dos dados fosse realizado após o preenchimento pelos pesquisados. 
Os dados das questões fechadas foram submetidos a tratamento estatístico simples por meio do programa SPSS for Windows, Versão 10.05. Foram tabulados e extraídos as frequências e percentuais que traduzissem numericamente os resultados a fim de serem percebidas as intenções reveladas pelos sujeitos.
A categorização das informações permitiu sua apresentação em tabelas, a partir da síntese dos argumentos apresentados pelos professores e das percepções dos estudantes. “A maioria dos procedimentos de análise organiza-se em redor de um processo de categorização” (Bardin, 2000, p. 07).  Essa forma de apresentação das informações isto é, partindo-se da análise da recorrência dos aspectos verificados na categorização, permitiu uma melhor abrangência das respostas e a extração daquilo que era mais relevante para discussão nesse texto, dentro dos objetivos propostos.  A aplicação criteriosa de todas as fases descritas teve por objetivo obter uma síntese sobre os resultados obtidos em cada uma das questões específicas do questionário da pesquisa.
O instrumento principal de coleta de dados foi o questionário, que foi enviado a 12 professores e a 80 alunos da educação profissional. Os resultados indicam que todos os professores possuem o Ensino Superior completo, e, no seu conjunto, ministram aulas nos cursos técnicos subsequentes; Tecnólogos e a maioria também para o Ensino Médio Integrado. Os estudantes são de turmas que têm algum estudante com necessidade educacional especial. As turmas são de cursos técnicos subsequentes e ensino médio integrado. A faixa etária varia de 14 a 30 anos. Esses alunos são do turno diurno.
Serão apresentadas, a seguir, algumas questões e respostas dos questionários. Questionados os professores se “eles utilizam alguma tecnologia em sua aula”. (Pergunta 5). Dos sujeitos entrevistados 51,6% afirmaram que sim e 46,8% responderam não. Apenas um sujeito não respondeu. Esses dados mostraram que embora mais da metade dos professores utilize alguma tecnologia em aula, uma significativa parcela dos sujeitos consultados ainda não o faz. Aos professores foi questionado como as tecnologias seriam utilizadas com estudantes com necessidades educacionais especiais. A questão colocada trouxe para a discussão a falta de informações sobre o conhecimento dos dispositivos que o instituto tem a oferecer. Para um dos professores:

Tenho uma aluna no curso técnico que tem muita dificuldade na escrita por causa de coordenação motora. Ela não escreve bem e quando o faz não se lê. Se houvesse o recurso, me disseram que há, mas não tenho conhecimento. Se houvesse um computador só para ela ou uma monitora para ajudar, para mexer no computador e escrever para ela. Porque durante a aula não temos tempo para dar esse apoio e muitas vezes nem sabemos como fazer. Eu acho se tivesse alguém o tempo todo ajudando ela se sairia melhor. (RESPOSTA QUESTIONÁRIO 1 – PROFESSOR)

De acordo com os depoimentos dos professores relativos à influência positiva do uso do computador, em geral deve-se ao a presença das TIC no contexto da sociedade atual. Os aspectos positivos indicados pelos professores pesquisados passa a noção das possibilidades de uso como vantagem, benefício e contribuição.
Para Cox (2003, p.9 – p.35) “A presença das máquinas de processamento nos mais diferentes locais de ação humana é uma realidade incontestável”. Por sua vez, as possibilidades de uso também. Ainda de acordo com a autora, “[...] pode-se afirmar que o número de formas de uso dos computadores tem seu limite nas fronteiras da capacidade criadora do homem”. Neste sentido justificam-se os depoimentos dos professores da pesquisa ao citarem as influências positivas do uso do computador
Aos estudantes foi perguntado como eles percebem o uso das tecnologias no sentido de favorecer a inclusão no IFB. Um estudante respondeu:

O uso das tecnologias ajuda e muito a gente que tem deficiência. Acho que a gente deveria usar mais a sala de informática. Lá eu aprendo melhor. Mas nem todo professor usa. Sei que tem uns programas novos, mas ainda não foram instalados. Mas eu acho sim que as tecnologias ajudam a pessoa com deficiência aprender melhor. (RESPOSTA QUESTIONÁRIO 2 – Estudante)

Como resultados da pesquisa, destacam-se, além da constatação dos avanços e conquistas verificados no processo de apropriação das TIC no IFB, também as dificuldades e obstáculos encontrados nesse processo pelos professores que responderam ao questionário, bem como dos estudantes. Os registros dos professores sinalizam também para a falta de políticas públicas que favoreçam uma maior agilidade e eficácia no processo de apropriação e uso das TIC, necessária para a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais.
Compreender a relevância do uso das TIC como recurso facilitador do processo de ensino e de aprendizagem, como elemento importante para a formação profissional dos estudantes pode trazer contribuições para orientar uma nova organização dos espaços educativos, apontando para a necessidade de se considerar a diversidade como princípio natural e fundamental da condição humana. Nesse sentido, as pessoas com necessidades educacionais especiais podem e devem ser consideradas sujeitos, com potenciais, capazes de aprender e se formarem profissionais competentes para se inserirem naturalmente no mercado de trabalho. Como nos aponta Moran(2008:47): “com a flexibilidade de organização do ensino e aprendizagem que as tecnologias possibilitam o currículo também pode ser muito mais adequado a cada aluno.”
       Espera-se, portanto, que os resultados apresentados por este estudo possam contribuir para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem na educação profissional, com vistas a oferta de uma efetiva formação de todos os seus estudantes, independentemente das suas demandas educacionais, para a garantia de seus direitos e para sua real inserção social.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000.
BELLONI, Maria L. Educação a distância. Campinas, São Paulo: Associados, 2005.
BOGDAN, R. et BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Coleção ciências da Educação. Porto: Porto Editora, 1994.
BRASIL. Lei n.º 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a rede federal de educação profissional, científica e tecnológica, cria os institutos federais de educação, ciência e tecnologia, e dá outras providências. Brasília: MEC/SETEC, 2008.
COX. K.C. Informática na Educação escolar. Campinas: Autores Associados, 2008.
LEITE. et al. Tecnología Educacional: Mitos e Posibilidades na Sociedade Tecnológica. Revista Tecnologia Educacional, ano XXVII, n. 148. Jan/Fev/Mar/2000. p.38-41.
MORAN, J. M. As muitas inclusões necessárias na educação. In: RAIÇA, Darcy (Org.). Tecnologias para a educação inclusiva. São Paulo: AVERCAMP, 2008.
____. Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias. Revista Diálogo Educacional, Curitiba: Quadrimestral, 2004.
____. Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias. In: ROMANOWSKI et al. (Org.). Conhecimento local e conhecimento universal: diversidade, mídias e tecnologias na educação. Curitiba: Champagnat, 2004.
PAIVA, A. G. O uso das novas tecnologias em turmas inclusivas. São Paulo: Quimera, 2011.
SIQUEIRA, J. C. O uso das TIC na Formação de Professores. Disponível em https://seer.ufs.br/index.php/interdisciplinar/article/viewFile/1649/1476. Acesso em 22 mai. 2017.
YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. São Paulo: Bookman, 2004.



Profª. Ma. Cláudia Luiza Marques
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Campus Gama

Profª Dra. Amaralina Miranda de Souza
Universidade de Brasília


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